A ‘Mulherzinha’ e a ‘Mulherzona’

A pedidos, hoje escrevo sobre uma de minhas teorias: a da ‘Mulherzinha’ e da ‘Mulherzona’.

Tem coisa mais gostosa na vida do que namorar? Fiquei sozinha durante anos, já nem lembrava mais como um relacionamento afetivo exige jogo de cintura e maturidade. Mas – ainda bem!!! – estou tendo a chance de relembrar, e em grande estilo. E é justamente vivendo esse momento tão especial que me deparei com um fantasma: a MULHERZINHA!

Ela só aparece quando estamos felizes e apaixonadas. Isso já demonstra que não se trata de boa coisa. Ser das trevas, tenta o tempo todo plantar a discórdia, a desconfiança, o que há de mais rasteiro nos sentimentos humanos. Está tudo bem e em paz entre você e seu amor, mas de repente, por qualquer motivo idiota, você começa a pensar coisas horríveis, que te deixam triste, pra baixo e cheia de dúvidas. E seu homem, que está lá, na dele, cuidando da vida e nem imaginando o que se passa na sua mente insana, de repente é bombardeado por perguntas e até acusações – quando não por aquelas indiretinhas infantis e aqueles cutucos ridículos que só nós temos o dom de praticar. Sim, porque é isso que fazemos com eles quando estamos sob o comando da ‘Mulherzinha’. É ela quem ativa o modo turbo do nosso lado ciumento, inseguro, medroso. Pode ver, homens não sofrem disso (só os que têm o lado mulherzinha muito aflorado, mas daí o que você vai querer com um cara desses, né?). Eles são práticos demais pra ficar refletindo dias inteiros sobre uma palavra torta, uma frase, uma reação ou qualquer coisinha boba. Isso é coisa exclusiva de mulher, ou melhor, da ‘Mulherzinha’!

Eu não quero ser mulherzinha. Você quer? Emprego a expressão ‘Mulherzinha’ pra designar um lado obscuro presente na maioria das mulheres. O lado chato, cricri e problemático. E sempre que me vejo incorporada por esse ser inferior, sinto-me decadente. A ‘Mulherzinha’ é fraca, ciumenta, insegura, irritante, encanada. Ela vê, ouve e sente coisas que, na maioria das vezes, nem sequer têm cabimento; e mesmo que tenham ela jamais conseguirá provar porque não têm provas, ela só fica imaginando, ela só serve pra ficar plantando dúvidas absurdas na nossa mente. E se a gente dá espaço, ela toma conta, nos domina, nos torna pessoas realmente abaladas psicologicamente - pelo menos no setor sentimental.  Por causa delas nos tornamos mulheres desagradáveis. Costumo dizer que é a nuvem negra que se forma acima de nossas cabeças de mulher, levando a paz, o sossego do relacionamento, plantando a discórdia, atormentando a vida dos nossos homens. Porque é preciso admitir: quando cismamos com algo, atormentamos mesmo! E daí a relação passa a ter mais momentos chatos do que gostosos. Gastamos nossas horas preciosas de namoro discutindo a relação, tentando reinventar a roda e, pior, contribuindo exponencialmente para que os homens mintam, digam só o que queremos ouvir. Porque é isso que eles fazem para se ver livres dos nossos questionamentos baratos.

Mas existe uma diferença entre cismar por motivos reais e cismar por do nada, por uma crise de ausência intelectual, nada de realmente concreto. É isso que nos separa do “Clã das Fodonas”, aquele composto por mulheres que, falando português claro, têm mais o que fazer do que ficar imaginando que seu homem está se esbaldando nos braços de outra no meio da tarde de terça-feira. E se estiver mesmo? Você vai ser a última a saber, minha filha! Conforme-se! O que não pode é ficar imaginando as coisas mais tristes e terríveis do mundo quando não se tem qualquer indício delas, apenas por pura pobreza de espírito (e falta do que fazer, porque mulher ocupada não se dá o luxo de pensar besteira o dia todo). É isso que acaba com as relações, porque cansa, vai minando as disposições que convencem um casal a se encarar, se encantar,  se admirar, se respeitar.

Sei lá, acho que se não existem motivos reais, por que sofrer? Se você está feliz e ele também, por que se deixar poluir com dúvidas sem sentido? Com constatações que surgem do nada?

A partir do momento que nos conscientizamos da existência da ‘Mulherzinha’, ela deixa de nos governar o tempo todo. É difícil controlá-la, pois crescemos sob essa influência, somos mulheres, faz parte da nossa condição o apego a detalhes, a reflexão, a observação profunda de tudo e a tendência de seguir mais a emoção do que a razão. Tudo bem! Também não devemos deixar de ser mulheres, assim como acho que certas características do homem não devem nunca desaparecer. Mas quando isso é exagerado, interfere na nossa saúde emocional, e o resultado recai sobre nossos relacionamentos amorosos. O ciúme desmedido é só um item desse pacote, e sempre ouvimos falar de casos extremos, perigosos. Mas há outras reações que podem chegar a proporções tão catastróficas quanto. Fora que gera sofrimento! Meu Deus, como a gente sofre a maior parte do tempo porque simplesmente não consegue curtir o agora, parar de tentar prever o futuro e sofrer por antecipação. Quem é que sabe do dia de amanhã, afinal?

Mulheres fodonas não têm tempo pra tanta frescura. Elas vivem o relacionamento um dia de cada vez, curtem, amam, se deliciam, fazem o que têm vontade, não se deixam frustrar por causa de tabus e clichês baratos. Elas não dependem do homem para ser felizes, nem do casamento, nem de nada. São felizes por conta própria e o amor é apenas um item que compõe a sua realização. Podem até sentir ciúme, mas não se rendem a ele, não se tornam reféns de nada e nem de ninguém. Podem até sofrer, mas não deixam de viver pelo medo de não dar certo. Elas fazem dar certo durante todo o tempo em que dura. Elas não ficam só imaginando e se afundando em amarguras e nem se deixam dominar pelo mau humor. Elas  sabem se comunicar, perguntam quando têm dúvida, vão direto ao assunto, são práticas.  E mais do que tudo isso: são felizes! São pessoas que têm sonhos e lutam para realizá-los, e o amor pode até estar entre eles, mas nunca será o único. Você já notou como pessoas felizes conseguem fazer qualquer um feliz também? A mulher fodona faz o tempo junto valer a pena. Se tiver que esclarecer algo, esclarece de uma vez e depois esquece, parte para o que lhe interessa, vai suprir as suas necessidades. Nessa, sem querer querendo, acaba suprindo as necessidades do outro numa boa, sem cobranças e sem dependências. Quando você é dependente, escraviza a si e ao outro, e isso não é justo – muito menos pode ser considerado amor.

Acho importante que nós mulheres fiquemos atentas a essas chatices tão típicas, e quando estiverem a ponto de explodir, controlá-las. Não é por eles, é por nós mesmas, para conseguirmos nos impor, nos tornarmos realmente independentes, começando pela alma. Porque é decadente demais se tornar refém de dúvidas, medos, ser tão encanada com tudo, infernal! É ruim pra quem sente e pra quem está perto. Demonstra imaturidade, despreparo, falta de autoestima. Além do mais, não tem jeito, as relações afetivas são muito importantes tanto para homens quanto para mulheres, então, acho que qualquer esforço em nome de relacionamentos saudáveis vale a pena.

Não estou dizendo que sou imune à minha ‘Mulherzinha’, mas hoje sou mais atenta. Quando ela começa a se espalhar muito, ou eu me toco ou meu próprio namorado diz “amor, acho que a mulherzinha tá aí”. Então rimos juntos da situação e retomamos os segundos perdidos do jeito certo: nos curtindo, nos merecendo. Qual o sentido de nos juntarmos a um estranho, com cultura e manias diferentes, crenças distintas e sonhos próprios, alguém que vai exigir adaptação total, dedicação profunda, senão o de aprender a ser feliz acima de qualquer adversidade? O amor também é lição, e como!

Por causa disso eu criei a ‘MULHERZONA’. Essa é outra estirpe, gente! Ela não tá nem aí para as frescuras, entra de cabeça em tudo que tem vontade, mergulha em suas próprias fantasias, aproveita mesmo. A ‘Mulherzona’ jamais bate DR, jamais perde tempo com discussões inúteis, ela só quer a parte boa da história. Nessa, eu mato todas as minhas vontades e realizo muitas das vontades dele. E quando nos despedimos, sentimos que cada minuto foi bem saboreado, o que sempre nos leva a novos e melhores encontros. E não tô falando só de sexo, mas de tudo que pertence exclusivamente ao casal: os códigos próprios, as brincadeiras, as carícias, os papos e até o silêncio.

Quando me sinto em paz, viro pro meu namorado e digo:  "a 'Mulherzinha' tá bem longe daqui, amor!". Tenho certeza que essa frase deixa ele bem mais tranquilinho. Mas felizão mesmo ele fica quando eu digo: “a ‘Mulherzona’ tá aqui, amor!”. Aí é só alegria! Quando a ‘Mulherzona’ entra em campo, a ‘Mulherzinha’ vira pó. Coitada! Se torna uma vaga lembrança de instantes negros que não hão de voltar. Tudo bem, vez ou outra voltam, mas desde que me atentei a ela, não consegue ficar por muito tempo, não. E como consequência, já não causa tanto estrago como antes. A ‘Mulherzona’ não chega a ser, ainda, membro efetivo do Clã das Fodonas, mas faz curso intensivo para tal, um dia ela chega lá. Mas que é bem mais forte e muito menos influenciável do que essa criatura atrasada, invejosa, complexada e arcaica chamada ‘Mulherzinha’, é: esse ser das trevas que se alimenta da infelicidade alheia e que merece ser rebaixada ao diminutivo pra sempre.

Ao Clã das Fodonas serei, fiel, isso sim! Porque o que eu quero mesmo é ser feliz!  Quem sabe um dia eu chego lá, né? Nós temos altos e baixos, mas acho que o importante é colecionar mais dias bons do que ruins, e no amor cada dia corresponde a um século! Por causa disso que estu encarando essa luta de controlar a minha 'Mulherzinha', e tô me sentindo bem com isso, ando aprendendo pra caramba sobre eles, mas principalmente sobre mim mesma. E acho que o meu amor também ;)


Comentários

  1. FINALMENTE!!!
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    Todas mulheres deveriam saber da Mulherzinha... deveria vir junto com cada 1... kkkkkkkkkkkk

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  2. Pois é Alíz, está absoluta mesmo. Palmas pra essa "mulherzona" aí.
    Uma das piores coisas num relacionamento que eu acho, é quando você vê aquele "bico" e pergunta: O que foi? Que cara é essa? E vem aquela resposta: Ah! Você sabe!!!!

    Meu Deus!!!!

    Beijos!

    Robson

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  3. Hua, hua, hua... Parabéns, Alizinha, por conseguir 'fatiar' a alma feminina. Ainda bem que você fatiou desigualmente, e deixou o lado 'mulherzinha' bem pequenininho, como ele merece. E você, Alizona, mostra muito bem o que é importante nessa vida, e que as picuinhas e nossos 'problemas inventados' têm mesmo é de ser incinerados na chama da paixão. Que a mulherzona tome conta. Fora com a mulherzinha! Beijão procê, Lili!

    B-1

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